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quarta-feira, 25 de junho de 2014

A Morte nas HQs

Homem-Aranha não consegue impedir o assassinato de sua
namorada, Gwen Stacy.
O mundo gira em torno de um ponto de interrogação.  A ciência, a arte e a filosofia são instrumentos que nos possibilitam pensar a realidade, a construí-la. Porém,  a certeza intocável não nos pertence.  Está além das fronteiras da delimitação humana. Exceto, uma: a convicção sobre nossa finitude. Morrer é uma condição natural do homem, tão importante quanto viver. Sendo assim, nada mais natural do que falarmos sobre a morte, correto? Errado. A morte é um dos tabus alienadores da nossa sociedade.




Rorschach encara sua morte como uma virtude
 diante da possibilidade de se corromper
Falar sobre a morte provoca repulsa na cultura ocidental contemporânea. Nada mais dispersador  que lembrarmos nossos iguais sobre  nosso prazo de validade nesse mundo. Em uma sociedade caracterizada pelo narcisismo, uma busca frenética por uma identidade que satisfaça e lhe permita ser percebido, morrer é sinônimo de não ser mais percebido. Pensar a morte é aceitar a nossa singularização dentro de uma sociedade que preza uma existência massificada.







Na Grécia Antiga, as tragédias faziam as honras de constatar a morte. A maldição sobre o Rei Édipo, as trapaças de Sísifo para burlar Thanatos, a viagem ao reinos do mortos, por Orfeu, para resgatar sua amada. Pensar nossa condição natural era um hábito do homem grego antigo. Longe de transformar um mundo em vale de lágrimas, sua vida era revigorada através das narrações míticas.


O câncer e a angústia de Constantine
Nossa contemporaneidade possui seus próprios mitos. As HQs são um exemplo. Desde os primórdios, tem se mostrado como um ótimo veículo para expressar reflexões, dúvidas, contestações e mais uma série de sentimentos mestrado pelo artista, que, assim como a música e a poesia, imprime os afetos do homem sobre sua existência. Personagens de quadrinhos também se angustiam com a morte. Abaixo, algumas situações nos comics:



a
Thanos ao lado de sua amada, a Morte
Thanos, um dos vilões mais contraditórios e temidos no universo Marvel, tem como seta única seu amor pela Morte. Matou metade das criaturas do universo, apenas para reconquistar sua amada.






A postura lúcida do Capitão Mar-vell: de aceitar sua própria finitude. 
Capitão Mar-vell,  procedente da raça Kree e um dos heróis mais poderosos da Terra, morreu de câncer,  depois de ser exposto à radiação em uma de suas lutas. 


          







Superman já teve sua vida interrompida nas mãos do, até então desconhecido, Apocalipse.
O mais forte dos homens, tombado por circunstâncias inusitadas.
A morte como opção de escolha deliberada pelo indivíduo.
Jason  Todd, o segundo Robin, assassinado pelo Coringa.
A morte de Robin foi anunciada após uma enquete, nas terras ianques, onde oferecia
ao leitor a escolha de matar ou deixar viver o mais famoso dos sidekicks.
A personificação carismática e atraente da morte, por Neil Gaiman, em Sandman.

Em contraponto com a figura medieval, um esqueleto com foice,
a Morte é retratada, aqui, com uma roupagem dark wave.

Flash desintegrado ao tentar salvar nosso universo da antimatéria.
Na época, um grande impacto entre os leitores. Até então, era incomum
encontrar a morte de personagens de primeiro escalão nas HQs.

O dínamo propulsor para inserir Bruce Wayne na sombra do morcego: presenciar o assassinato dos pais.
A morte como ferida traumática na família.

A namorada do Demolidor, Elektra, morta por um dos seus piores inimigos.
A morte como ato de crueldade. O homem como lobo do próprio homem.




A HQ "A Morte do Super-Homem" é um dos grandes exemplos de
estratégia de vendas por parte das editoras.
O anúncio da morte de um personagem nas HQs, virou rotina entre os leitores. Tão banal quanto o sol nascer pela manhã, heróis e vilões morrem e renascem, com muita frequência, nos quadrinhos. Afinal, qual insano aceitaria que personagens altamente rentáveis, como Superman & CIA, descansem na eternidade definitivamente? Morrer nos comics, muitas vezes, é uma estratégia de vendas por parte dos editores.






Independente das intenções editoriais, ao lidarem com a morte, os personagens nos oferecem uma afinidade com nossa natureza. Os “gibis”, inofensivos por muitos, podem nos servir de espelho, nos conduzindo à experiência de nossas possibilidades existenciais, tanto no aspecto reflexivo ou catártico. Afinal, encarar a finitude de nossas vidas é o passo essencial para o filosofar. 

terça-feira, 24 de junho de 2014

Curiosidades sobre a primeira história dos X-Men - por Marcus Farrapo

As bancas, às vezes, se jogam no despreocupado percurso dos adultos consumidores de HQs. Para minha surpresa, os X-Men  reluziram na prateleira entre tantas revistas. Trata-se da publicação das primeiras histórias dos mutantes, desde seu surgimento em 1963, nas mãos de Stan Lee e Jack Kirby, pela Panini Comics, numa edição caprichada, acompanhada de um box para guardar mais três revistas com clássicas aventuras dos X-Men. Como capa, a famosa número um.


Relendo a primeira história, me deparei com algumas curiosidades sobre a gênese das revistas mutuna-marvetes. Eis algumas:



  • O Homem de Gelo possuía uma aparência "cremosa", mais próxima de um boneco de neve, calçado de botinhas.
  • Ciclope era chamado carinhosamente de "magrão" pelos colegas de grupo. 
  • O professor Xavier especula ser o primeiro mutante  brotado na face terrestre. 
  • O professor Xavier é chato. Dá bronquinha com ameaças nos seus pupilos durante as páginas.
  • O professor Xavier é foda. Controla uma aeronave à distância com os poderes telepáticos.
  • A recém-chegada de Jean Grey (batizada de Garota Marvel), causa estrondo no coração dos meninos do Instituto Xavier. Todos querem tirar uma casquinha da barbie mutante.
  • Magneto não gesticulava as mãos para manipular objetos magneticamente. Bastava um pensamento para que, da sua cabeça, irradiasse seu poder.
  • Fera, sem pelos, com um temperamento próximo do Coisa, do Quarteto Fantástico.
  • Apesar da capa mostrar um Anjo munido de uma bazuca na investida grupal contra Magneto, nas páginas, sequer empunha um canivete. 
  • Existia vida mutante na Marvel sem a centralizadora presença de Wolverine. 
Uma grande história? Certamente, hoje, não. Mas, talvez, é possível imaginar o impacto entre os leitores de quadrinhos dos anos sessenta, quando uma vitrine de heróis marginais e estranhos, se contrapôs ao glamour dos paladinos da DC Comics. Vale a pena estar na coleção.



terça-feira, 10 de junho de 2014

O efeito catártico dos super-heróis – por João Paulo Rodrigues

 Muitos se perguntam por que, após uma boa leitura de uma HQ ou ao final de um bom filme de super-heróis, nós nos sentimos mais revigorados e/ou cheios de ideias novas para nossas ações cotidianas, como, por exemplo, sermos mais responsáveis em nossas ações após um dos conselhos mais famosos do mundo dos super-heróis, dito pelo tio Ben para Peter Parker:
 Está certo que Peter não se deixa convencer pelo conselho do tio Ben em um primeiro instante, ao usar seus poderes para benefício próprio e não ajudar que lhe pediu auxilio por pura e simples vingança.


Ora, mas é claro que isso é problema seu pequeno gafanhoto, pois, a partir do momento em que Peter percebe que seu tio morreu por causa de sua negligência em fazer o bem, o iniciante Homem-Aranha entende a importância de ajudar as pessoas sem ter interesse algum nisso, a não ser tirar uma ou duas fotos para ganhar uns trocados, afinal, ele também precisa sobreviver, mas sempre nos mostrando que suas ações são corretas e valem a pena serem realizadas por si só.


Aristóteles, em seu livro A Poética, diz que a arte provoca no homem uma catarse (purificação). Assim, ao contemplarmos uma obra de arte (no caso um filme ou uma HQ de super-heróis, lembrando que a HQ como uma arte foi muito bem relatada em “HQs: Uma Arte? – por Marcus Farrapo”), aprendemos coisas novas e conceitos universais que nos fazem ser melhores, já que sentimos vontade de deixar de errar, de fazermos coisas mais elevadas e de ajudarmos os outros.


Já Kant, no livro Crítica da Razão Prática, nos apresenta o famoso imperativo categórico “agir como se meu comportamento pudesse se tornar regra universal”, além de um outro imperativo categórico não menos importante “tratar o ser humano como fim de minha ação e não como meio para ela”.




Mas calma jovem Padawan, não estou lhe dizendo pra vestir um collant e uma máscara e sair pelas ruas combatendo o crime, o que quero dizer aqui é que as boas ações dos super-heróis que lemos ou assistimos servem, ou deveriam servir, para nos purificar, para nos mostrar que podemos ser melhores do que já somos, nos utilizando dos atos feitos pelos super-heróis como máximas universais a serem seguidas sempre, já que devemos ajudar uns aos outros e tratar a todos como fim em si mesmos, mesmo que essas ações éticas sejam as mais simples de serem realizadas.



Sendo assim, deixe nos comentários, caso queira, alguma passagem de uma HQ ou de um filme que o purificou e que você utiliza como uma máxima a ser seguida em seu dia-a-dia.