Cinema, literatura, desenhos, HQs...tão comum presenciarmos
a visão do gênio recluso em seus afazeres acadêmicos, atormentado pela
própria sombra, um monstro contido na carcaça de uma silhueta frágil, que ao
ser liberado, deforma-a numa criatura que rompe os limites da anatomia humana. Ao retrocedermos ao
princípio originário de tal visão, encontraremos o solitário Dr. Jekyll e sua contraparte maléfica, Mr. Hyde.
“A cada dia, e dos dois lados de minha inteligência – a
moral e a intelectual – portanto, fui-me aproximando inexoravelmente da verdade
cuja descoberta parcial condenou-me a tão medonha derrocada: que o homem não é verdadeiramente um, mas
verdadeiramente dois.” (pág.80)
A novela O
Médico e o Monstro (The Strange
Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde) foi publicada em 1886, pelo escritor escocês, Robert
Louis Stevenson. Sua inspiração surgiu em sonhos, enquanto convalescia de hemorragias e convulsões
pulmonares. O personagem de Dr. Jekyll, um médico respeitado pela sociedade
londrina, após uma epifania de que o
homem possui duas faces, uma boa e outra má, resolveu trazer a tona sua
personalidade sombria, dando-lhe concretude e vida através de uma poção.
Mr. Hyde transformando-se em Dr. Jekyll.
“Aproximou o copo dos lábios e bebeu o conteúdo de uma vez
só. Ouviu-se um grito; ele titubeou, cambaleou, agarrou-se as bordas da mesa
para não cair, com olhos fixos e injetados, arquejando coma boca aberta. E
enquanto eu olhava, pareceu-me que estava ocorrendo uma mudança , ele dava a
impressão de estar inchando, seu rosto ficou preto de repente, e as
feições pareceram derreter-se e alterar-se...” (pág. 77,78)Sua aparência se descompromete com qualquer modalidade estética conhecida. Um homem de baixa estatura, capaz de causar repúdio somente pela presença.. Seu rosto expõe uma primitividade dormente nas pessoas, algo que todos temem que um dia desperte. No livro de Stevenson, Hyde pisoteia uma criança e mata um homem por espancamento.
Trata-se de uma dicotomia acentuada pelo conflito entre o
civilizado e o selvagem. Thomas Hobbes, pensador inglês do século XVI, nos diz pela sua obra Leviatã, que o homem está distante de ser um animal social, a exemplo das abelhas e formigas. A agregação em sociedade surge antes por necessidade do que por instinto. Ainda em seu estado de natureza (condição humana que antecede a legitimação de um contrato social), o homem encontra-se em guerra de todos contra todos. O homem torna-se o lobo do próprio homem. Para Hobbes, o conflito é gerado por três fatores:
O conflito somente encontra um fim, quando os homens entregam sua liberdade para uma autoridade extrema, a figura do soberano, onde leis são fundamentadas no intuito de frear os impulsos da barbárie. configurando-se no estado civil.
Em O Médico e o Monstro, o personagem de Mr. Hyde rompe com quaisquer normas e valores erigidos dentro de uma sociedade. Seu comportamento bélico o remete ao estado de natureza hobbesiano, ou seja, o homem ausente das limitações de seus desejos, em guerra contra todos, ao contrário de sua outra metade, Jekyll, um homem inserido dentro do pacto social. Porém, longe de ser uma vítima de seu experimento, Jekyll compactuou com as perversidades de Mr. Hyde. Enquanto no controle de seu alter ego, o doutor regozijava-se de satisfazer seus desejos obscuros, em detrimento das normas sociais, na figura de Hyde, e sair impune ao retornar à sua forma normal. Fica claro a crítica de Stevenson à sociedade britânica do século XIX.
- Competição
- Insegurança
- Glória
O conflito somente encontra um fim, quando os homens entregam sua liberdade para uma autoridade extrema, a figura do soberano, onde leis são fundamentadas no intuito de frear os impulsos da barbárie. configurando-se no estado civil.
Em O Médico e o Monstro, o personagem de Mr. Hyde rompe com quaisquer normas e valores erigidos dentro de uma sociedade. Seu comportamento bélico o remete ao estado de natureza hobbesiano, ou seja, o homem ausente das limitações de seus desejos, em guerra contra todos, ao contrário de sua outra metade, Jekyll, um homem inserido dentro do pacto social. Porém, longe de ser uma vítima de seu experimento, Jekyll compactuou com as perversidades de Mr. Hyde. Enquanto no controle de seu alter ego, o doutor regozijava-se de satisfazer seus desejos obscuros, em detrimento das normas sociais, na figura de Hyde, e sair impune ao retornar à sua forma normal. Fica claro a crítica de Stevenson à sociedade britânica do século XIX.
"Tive a impressão de que era obrigado a optar por um dos dois. Minhas duas naturezas tinham em comum a memória, mas todas as outras faculdades estavam repartidas de forma desigual" (pág. 87)
Ao contrário do personagem de Stevenson, Mr. Hyde, em algumas adaptações , foge da fidelidade, ilustrado como uma criatura alta e marombada.
Podemos encontrar adaptações da novela em películas cinematográficas que remontam à data de 1908, passam pela versão de 1920, com John Barrymore, 1931, com Fredric March, e a de 1941, com Victor Fleming.
A sátira O Professor Aloprado, de 1996, remake do filme de mesmo nome com Jerry Lewis, de 1963
,
A versão anabolizada e verde de Mr. Hyde no Universo Marvel
Pernalonga e Jekyll/ Hyde
Fonte: Stevenson, Robert Louis. O Médico e o Monstro. trad. Heloisa Jahn. Editora Ática. São Paulo, 1994
Um comentário:
Dentre as diversas representações contemporâneas da personagem a que prefiro é a do Pernalonga.
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